"Acredito que não se pode alcançar uma expressão clara de nosso tempo a menos que se possa usar uma disciplina clara na construção. Estou convencido de que a arquitetura não pode ser outra coisa senão a expressão de uma civilização. A expressão da essência dessa civilização. Frequentemente comparo a arquitetura com a linguagem. Para dominar realmente uma língua, é preciso dominar sua gramática. Assim então, é possível se expressar claramente. Você poderia dizer coisas muito normais em uma língua, poderia dizer coisas muito lógicas e, se você for um poeta, você pode até mesmo expressar coisas artísticas em uma língua. E eu acho que ocorre exatamente o mesmo na arquitetura."
Extrato do documentário MIES.
Esta reflexão de Mies provoca a busca pela finalidade última da arquitetura. Nesta época contemporânea em que a saturação e a velocidade atenuam a atenção, assumimos o papel de uma arquitetura não-protagonista. Recorremos ao silêncio.
Entendemos a clareza construtiva com base na disciplina. Este é o caminho que nosso escritório tem seguido desde seu início até os dias de hoje. Aprender modos e expressões idiomáticas, praticar seu uso, compreender o momento certo para usar um adjetivo, saber reconhecer um verbo, praticar a exatidão, pausar... Escutar.
Para além dos resultados, fortalecemos a ideia do processo como uma disciplina. Estabelecemos uma conversa única, a esperançosa melhoria da habitação humana dentro do planeta, através do uso razoável dos recursos e visando o exercício constante do aprendizado conjunto, como parceiros, na sociedade. Não estamos interessados no particular, mas em aprender (quando se estuda, se aprende, mas quando se interage com o ambiente, também se aprende). A partir daí, podemos transformar matéria em material, imaginário em concreto e proceder, a partir de uma análise rigorosa, com a decisões que comunicam com a máxima clareza uma ideia, seja ela uma pedra, uma palavra ou um espaço habitável.
Assim, a conversa se intensifica, a relação entre emissor e receptor é refinada, tornando-se mais certeira, mais precisa, mais humana. Convocamos a matéria como uma autêntica disciplina do pensamento arquitetônico, damos-lhe o papel de uma palavra, e com ela dizemos coisas. Dizemos que amamos a sombra e a paisagem, que nos repetimos incansavelmente para desfrutar do espaço entre muitos, que usamos o conhecimento para superar a gravidade e os medos, que reconhecemos nossas limitações e por isso pedimos ajuda, que fazemos para proteger e compartilhar e acima de tudo que pensamos em liberdade e imaginamos lugares únicos onde é melhor viver.
Como mais uma frase na conversa geral, esta pequena casa é uma pausa no ruído constante da cidade, ausente e despercebida, é feita de vazio, jardins, ar, luz e um ou outro tijolo. Vamos continuar falando, mas melhor ainda vamos tentar ouvir mais e melhor, até mesmo os silêncios.